quarta-feira, 8 de julho de 2009

POR QUE DEFENDO SARNEY?

Todos têm direito à defesa. Uma pessoa que participe como jurado no Tribunal Popular do Júri tem a prerrogativa de, se vier a ser preso, ficar em cela especial. E por aí segue o desfile de alternativas em favor desses ou daquele empolado, circunstâncias que aliviam esta ou aquela autoridade.

Por que Sarney não pode ter os privilégios conferidos a tantos? Uma vez presidente da República; rompeu com a ditadura; três vezes Senador; Governador do Maranhão; além de outros cargos importantes na política, como várias vezes presidente do Senado e, ainda, um acadêmico, membro da Academia Brasileira de Letras, com inúmeras obras publicadas.

Mais de 50 anos dedicados à política. Será que não realizou algo em favor do povo? Com quase 80 anos de vida, já não tem o direito de errar, mesmo que esse erro seja uma vontade de ajudar um amigo?

Ora, atacam Sarney porque muitos da sua família, criados e vividos dentro da política, exercem cargos de destaque nessa mesma política. Como isso pode ser? Então, um brasileiro eleitor, livre e com seus direitos políticos em dia, exercendo um cargo eletivo condena toda a sua família para só trabalhar na rede privada?

Por outro lado, não desejando colocar todos na vala comum, quem é mais honesto do que Sarney dentro do Congresso? Há aqueles que se dizem não terem feito nada, somente recebido uns trocados para doar passagens às namoradas, parentes e amigos e que, mesmo assim, devolveram as quantias correspondentes. Qual a diferença de se devolver o que se recebeu indevidamente e se ter um parente exercendo um cargo na rede pública, constatando-se que tal parente tem competência para tanto? Uma infração viola a lei, outra não? As duas não são infrações? Uma requer castigo, outra não? As duas não estão sujeitas à reprimenda enérgica da sociedade? Por que somente o que atribui a Sarney merece conceito de antijuridicidade?

Um parente trabalhando com desenvoltura num cargo público é legal, e até demonstração de que se é honesto: preteriu-se o outro para amparar o seu, ou vice-versa: preteriu o seu para beneficiar o outro. Enquanto que pegar verbas de maneira ardilosa ou sorrateiramente e depois desculpar-se de que não sabia da sua ilegalidade, pelo menos para mim, é muito mais feio e infringente.

O que me espanta é que ninguém pode atirar pedra em Sarney. Mas a imprensa atira a torto e a direito, às vezes fazendo o jogo de muitos. A imprensa tem execrado alguns políticos que, anos mais tarde, apura-se a sua inocência. O que não é o caso dos senadores: não estou afirmando que todos têm culpa no Cartório.

O que existe, então? É um sistema antigo que funciona anacronicamente. Lembro-me do senador Agenor Maria – o homem do algodão -, do meu estado, que foi eleito Senador nos idos dos anos 70 e, num discurso na feira debaixo de sol inclemente bradou que para entrar no céu era preciso morrer. O Senado Federal é um céu e nem havia morrido para chegar lá. Quer dizer, os senhores Senadores têm, desde a manicure até as viagens de avião semanais para qualquer lugar; desde o cafezinho até a publicação luxuosa de livros que ninguém lê; desde o telefone, passando pelo celular, internet, automóvel com chofer, apartamento residencial, até às verbas indenizatórias; desde o tratamento dentário, mais o direito a tratamento médico de qualidade de primeiro mundo (e é para toda a família), até o sagrado direito de ter vários assessores; desde seus ganhos pecuniários depositados em sua conta, até as ajudas extras de empréstimos e similares. Tudo isso sem a verificação do assédio dos empresários que buscam benefícios fiscais, políticos e financeiros em suas atividades enriquecedoras e peculiares.

Daí a razão de tanta crítica e, porque Sarney exerce a presidência, e ser, ao mesmo tempo, líder, político calejado e amigo e apoiador de Lula (este com quase 90% de aprovação popular) o Senado vem sendo detonado a toda hora para, assim, empanar a biografia de Sarney; desmoralizar o Congresso e que as mazelas respinguem em Luis Inácio da Silva que, não se praticando atos exageradamente cruéis, como no passado, deverá eleger seu sucessor, isto é, sua sucessora: Dilma Ruseff.

Defendo José Sarney por sua vida embasada num ideal democrático! Por ter passado por tantos obstáculos! Por causar inveja a muitos metidos a puros e éticos! Por ter palavra empenhada e resgatada com dignidade! Por não concordar com esse achincalhe barato de um punhado de prosélitos da denúncia, mesmo que essa denúncia não venha com a marca da ética tão reivindicada.


William Lopes Guerra
Apodi – RN, 7 de julho de 2009.

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